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Denis Cosac | Preto no Branco

Texto Crítico: Felipe Scovino

Mais que uma figuração

 

Há algo veloz e intransigente, sutil e complexo nos desenhos de Denis Cosac. Suas representações são silenciosas mas nunca disciplinadas, há uma relativa ambiguidade entre um traço ligeiro e persistente e a ideia de paisagem, e é nessa apreensão que percebemos a qualidade da sua obra, ou seja, sua principal vocação ao ser fabricada é dirigir o olhar e percepção justamente para o que ocorre no mundo.

 

É curioso como o artista opera uma ressignificação do desenho, o quanto, em determinado por exemplo, essa técnica pode vir a invadir a pintura, formando uma relação harmônica. Hoje o desenho possui uma autonomia que lhe dá o mesmo estatuto da pintura, gravura, instalação, performance, fotografia ou vídeo. O desenho tem uma vida própria e independente, está longe do seu passado subordinado e dependente como preparação a uma obra final, seja uma pintura, seja uma escultura. A substância da autonomia conquistada pelo desenho se encontra ali onde alguma coisa se traça e se materializa, não apenas na questão da linha - no sentido tradicional do desenho - nem tampouco no sentido que a arte contemporânea tem adotado largamente, quando toda vez que pintam sobre o papel, chamam isso de desenho, e aquilo pode ser considerado pintura sobre papel. Contudo, no caso de Cosac, há o sentido maior de desenhar, de traçar algum caminho, mesmo que seja por conta de um improviso ou acidente. É justamente na contaminação do espaço por esses acidentes que surge um dado a se ressaltar: nos parece que esses espaços fogem ao seu controle, por mais que evoquem um planejamento. Esse dado está expresso nas formas antropomórficas mas sem rosto, como se essa impossibilidade de se identificar nominalmente a figura nos encaminhasse rapidamente para uma zona em que percebêssemos que o outro não é tão distante de nós. As obras de Cosac posicionam o desenho dentro de um repertório contemporâneo que o coloca com uma velocidade e um arrojo que são particularmente difíceis de serem conciliados. O artista de certa forma aponta um dado utópico: nesse descomprometimento de uma paisagem alegre e fervilhante (cujas menções a música ou a um ambiente sonoro é reforçado invariavelmente em sua obra), a imagem de uma massa homogênea não faz com que percamos o significado de nossas individualidades, mas pelo contrário, reforça uma natureza política solidária e utópica do indivíduo.

 

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