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Exposição Leonardo Ramadinha

Curadoria: Vanda Kablin

 

 

Par délicatesse j'ai perdu ma vie

Chanson de la plus Haute Tour - Arthur Rimbaud

 

 Na exposição Sobre a delicadeza das coisas , estão presentes um conjunto de fotografias realizadas por Leonardo Ramadinha,  tendo como principal  protagonista a poesia de Arthur Rimbaud,  intitulada Chanson de la Plus Haute Tour, através da abordagem  específica de  um verso ali presente:  “par delicatesse j’ai perdu ma vie . O interesse  plástico do artista pela realidade ao seu redor, como um instrumento para produzir significados,  uma espécie de cartografia do seu cotidiano,  estabeleceu um significativo valor  poético  a esses trabalhos. Aqui estão presentes cenas exteriores, sobretudo paisagens, investidas de algumas fraturas do instante presente, criando uma espécie de interlúdio lírico com a natureza.

 

Irradiam um diálogo visual pela ação de seu imaginário,  que trazem novas formulações plásticas evocativas, memorialistas e com uma pulsação psíquica que nos contamina por sua intimidade.  Ramadinha  encontra sua gramática poética no ritmo da vida real e somos tragados pelas sugestivas imagens, por vezes etéreas, evanescentes em um constante estado de devir, processos por vezes inconclusos , fragmentados:  formam uma escritura pessoal,  como se participassemos também desse encontro privado que se interpenetra  nesse território impreciso que singulariza a sua experiência estética, uma cadeia de instantes que se depara com um encontro com objetos fortuitos, em situações cotidianas.

 

A delicadeza, como principal dispositivo  do resgate do universal em suas singularidades,  dialoga com a sua captura do  jogo ilusório do real, sugere uma pluralidade de significados e  pode se apresentar, às vezes,  um documento visual tão pertubador, aparentemente aberto a um terceiro sentido e trazer uma nova porosidade para a nossa percepção. Encontramos, na natureza efêmera de suas capturas fotográficas, uma identidade nas incertezas, uma descoberta de ambivalências por onde transita sua força artística. Recupera elementos banais e os traz para um território que anseia por consonâncias.

 

 

Instaura, nessa atonalidade do mundo, a sensação de vazio, as ambiguidades, as nebulosidades –  as delicadas cenas parecem ser atraídas por esse silêncio, concluindo um sistema de poesia visual. A delicadeza é um oásis, a recuperação de um sonho ou desejo que parecia estar trancafiado. Aqui Ramadinha exercita suas evanescências visuais,  que trazem um fraseado particular e fortes sussuros.

 

 

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