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Marcelo Catalano | Superfície

"A cor é o lugar onde nosso cérebro e o universo se encontram."

Paul Cézanne

 

Em seu “Nature Morte au Crâne” de 1898, o pintor Paul Cézanne, parece brincar com o esqueleto que quase nos oferta frutas frescas de vívidas cores, às quais chama de natureza morta. No crânio pop de Catalano, a caixa óssea estampada em um múltiplo, é depositária dos restos de fitas, fragmentadas, mastigadas e dispostas de modo caótico, como máscaras das sinapses em caminhos de cor, que parecem rir da forma ordenada que se externam, se desdobram, utilizadas na feição das retas perfeitas e acomodadas de suas pinturas. Ambos nos levam a refletir sobre a face e o avesso das coisas, em seus tempos distintos.

Superfície nos traz um conjunto de obras, que se relacionam, como peças em um jogo aberto de vetores. A dicotomia entre os dois significados da palavra: a face que se revela, versus aquilo que não se aprofunda, cabe aqui como uma das muitas definições do que pode ser pintura. A cor, como veste, rastro, fronteira, delimitando seus campos somada ao suporte que as ampara, quebrando as medidas tradicionais,  matericamente, sem  ilusão.

 

Marcelo Catalano caminha de suas linhas ritmadas para planos variáveis em volumes inesperados. A partir da marca primordial de sua pintura, as colorbars, com sua vibração ótica do espectro de cores intensas ou até ácidas, o artista vai nos provocando com pinturas-quase-objetos que se projetam, sutilmente, em um desdobramento da segunda para a terceira dimensão, nos remetendo a espaços topológicos. Listras que em tempos medievais sinalizavam os que estavam à margem da sociedade: loucos, possuídos, condenados… Seria a alternância de cor e os contrastes, a marca da maldade? Ou o ilusório ótico, o sintoma do desequílibrio? Listras se ampliando em variadas superfícies, agora, determinando a ordem. Questões pictóricas que nos levam à pergunta pintada em uma de suas telas: Why not?’

 

Clarisse Tarran, 16 de março de 2016

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